Cristóvão Feil chama a atenção, no Diário Gauche, para a rápida guinada editorial da RBS na cobertura do assassinato do ex-vice-prefeito e secretário de Saúde de Porto Alegre, Eliseu Santos (PTB). Na noite de sexta, logo após o crime, e na manhã de sábado prevalecia a “convicção generalizada de que o secretário havia sido executado por um de seus muitos desafetos”,como afirmou o jornal Zero Hora no sábado. Menos de 24 horas depois de afirmar isso, porém, ZH mudou de linha e passou a esvaziar a imagem do Eliseu “brigão” e “polêmico”. O Diário Gauche resume assim essa guinada:
“A espontaneidade das primeiras horas cede espaço para um tratamento editorial que visa esvaziá-lo de conteúdos políticos ou que envolvam interesses relativos ao submundo das disputas licitatórias, ligações com o caso Pathos, o recentíssimo depoimento da vítima à Polícia Federal que apura suspeitas de corrupção na prefeitura de Porto Alegre, ameaças de morte recebidas reiteradas vezes pelo secretário, etc”.
Desde os primeiros momentos após o assassinato, integrantes da cúpula da segurança pública passaram a defender a tese do latrocínio, tese esta rapidamente comprada pela mídia, que além de começar a construir essa narrativa (do latrocínio), engajou-se num processo de quase canonização do secretário morto, assegurando que ele estava “mudando para melhor” no governo Fogaça.
Primeiro delegado a chegar ao local do crime, Alexandre Vieira (aquele que peitou Enio Bacci e conseguiu a demissão do Secretário de Segurança junto à governadora, sendo promovido depois) fez a frase que pode ser considerada como resumo dessa guinada: “Se o matador planejou, planejou mal”. Nesta terça-feira, o jornalista Humberto Trezzi repete essa tese em ZH, ao falar de “assassinos brancaleones”. Se foi uma execução, diz ele, “estamos diante do atentado praticado pelo maior grupo de trapalhões jamais reunido no submundo”.
Há crescentes rumores de que o autor do “latrocínio” pode ser apresentado nas próximas horas, definindo o caso como crime comum e iniciando assim o fim do “caso Eliseu”. O fato de o assassinato ter ocorrido 24 horas depois de Eliseu Santos depor na Polícia Federal sobre a fraude no Programa Saúde da Família, na prefeitura de Porto Alegre, iria para a gaveta já repleta de “coincidências” não explicadas neste período recente da política gaúcha.
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