Texto escrito e publicado em um jornal do interior do RS a quatro anos atrás, por um praça da Brigada Militar, cujo nome não irei identificar por razões óbvias. Vale a pena ler.
Foto extraída do Blog Pimenta com Limão
Caros Policiais Militares,
Convido-lhes a fazer uma breve reflexão sobre a força que a Brigada Militar do Rio Grande do Sul emprega contra manifestações sociais. Todos nós sabemos que militares vivem sob um regulamento castrense; um regulamento que nos castra perante a lei. Eis a razão de não termos acesso ao direito fundamental do Habeas Corpus, direito a greve, manifestações coletivas em defesa da classe, entre outras coisas. Essa castração, em contrapartida, é a grande responsável pela desgraça pela qual cada Policial Militar passa em seu cotidiano: a baixa remuneração, o sucateamento da instituição, as péssimas condições de trabalho e, acima de tudo, o tratamento indiferente e hostil por parte de alguns superiores hierárquicos que apenas nos vêem como um simples peão em um tabuleiro. Notem que, quando se fala em superior hierárquico, devemos incluir aqueles que não vestem a farda, no caso, o Secretário da Segurança Pública, o Governador, etc. Exatamente aqueles que, além de não estarem sob um regulamento castrense, ainda possuem foro privilegiado. Aliás, são privilegiados em todos os sentidos, quando comparados com seus peões.
Deste modo, podemos refletir sobre o comportamento da Brigada Militar diante dos Movimentos Sociais – exatamente aqueles que fazem o que nossa classe não pode fazer: reivindicar direitos, melhores condições sociais, inclusão social, etc. Eles possuem esperanças, como podemos perceber através de manifestações, enquanto nós vamos perdendo o “fiozinho” que resta no dia-a-dia – vale destacar que muitos se comportam como prostitutas que se vendem a qualquer empresário que possa lhes pagar R$ 50,00 por noite, porém, ao invés de prazer, é dada segurança e, muitas vezes, o próprio sangue. Como se não bastasse, se vendem aos políticos que estão no poder – quem sabe não rola um elogio, uma medalha, uma “boquinha”? Vejam que a classe tem um pensamento individualista quando a questão é tirar o pé da lama, pois coletivamente estão amarrados pela inexistência de direitos sociais. Além do mais, após 20 anos de prestação de serviço sem ter uma promoção, enquanto aquele capitão de quando vocês eram apenas recrutas já é Major ou até mesmo Coronel – caso tenha se vendido à política sem ideais -, bate a grande revolta que terá que ser sublimada, pois, ao contrário, as celas do BOE lhes esperam de braços abertos, ou quem sabe, aquela transferência para Bossoroca que lhe ameaçará a “carreira” inteira. Então, sublimar é a única solução, e para isto estão aí os torcedores, os movimentos sociais e todos aqueles inimigos do Governo, pois para não fugir da regra, até para sublimar, ou melhor, “descer a lenha”, devem estar autorizados, a mando do Governo que tanto lhes é indiferente. Não é por acaso que a base da Polícia Militar é escolhida a dedo nas entrevistas com as psicólogas, pois deixar entrar na corporação pessoas coerentes, com fortes conhecimentos históricos, filosóficos e sociais seria algo ameaçador para o atual sistema econômico. Não é interessante ao Governo um Policial Militar que conheça e saiba interpretar os artigos da Constituição Federal, principalmente o 3º e 5º. Para tanto, o próprio salário já é um filtro, pois poucos com tais conhecimentos pensariam na Policia Militar como carreira. Vejo que os Movimentos Sociais e Policiais Militares deveriam estar lado a lado na briga por melhores condições de trabalho, pela dignidade como seres humanos, pela moradia digna, cuja propriedade pertence apenas a uma pequena parcela da população brasileira. Quantos praças da BM possuem casa própria? Quantos praças não precisam fazer bicos, cujo vínculo empregatício não pode ser legalmente firmado? Quantos Policiais Militares vão ao supermercado sem precisar pesquisar o preço dos alimentos? Rogo para que a classe Policial Militar seja iluminada e perceba que existem esperanças, que existe saída para seus problemas profissionais e conseqüentemente sociais. Policiais Militares são trabalhadores, derrubam o sangue e o suor no solo em que vivem. Unam-se as bases de todas as classes. Repudiem o poder opressivo de alguns Governos. Não sirvam às castas que os usam para anular aqueles que sentem as mesmas, e até mais, necessidades que vós.
"Importante e urgente como libertar criaturas humanas de prisões inumanas é ir em socorro de verdades prisioneiras de sistemas, de idéias que as retêm e asfixiam." Dom Héder Câmara
Vejo por este Manifesto que nem todo Brigadiano é alienado de suas faculdades mentais.
ResponderExcluirNa BM também temos verdadeiros companheiros das causas sociais, não apenas interesseiros por cargos e benefícios pessoais.