Gorila quis banalizar violações aos direitos humanos durante ditadura civil-militar
As manifestações do novo chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, general José Elito Siqueira (na foto com Dilma), criaram mal-estar ontem, no Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff chamou Elito em seu gabinete na noite de ontem para pedir explicações. A informação é da Folha.
No dia de sua posse, Elito Siqueira se posicionou contra a criação da Comissão da Verdade e disse que os desaparecidos políticos são um "fato histórico" do qual "nós não temos que nos envergonhar ou vangloriar".
Segundo o projeto enviado pelo governo, a Comissão da Verdade terá a "finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos" durante a ditadura.
Durante o dia, a presidente fez chegar ao general sua insatisfação com as declarações, já que o governo Lula enviou no ano passado projeto de lei ao Congresso Nacional em apoio ao órgão.
A mídia apurou que Elito disse a Dilma que foi "mal compreendido" pelos jornalistas durante a entrevista e que as reportagens não retrataram o que ele disse.
Dilma não gostou da manifestação do general que é claramente contrária à posição de seu governo e do antecessor. Dilma era ministra da Casa Civil quando o projeto de lei da Comissão da Verdade foi formatado.
O vice-presidente Michel Temer minimizou os comentários de Elito. Questionado se não era contraditório a presidente, torturada durante a ditadura, ter como subordinado próximo um general contrário a investigações sobre episódios de tortura no regime militar, Temer disse que a pergunta deveria ser feita à própria presidente.
"Acho que é a opinião dele, né? Não vou me manifestar a respeito da opinião dele", disse o vice de Dilma.
O ministro Nelson Jobim (Defesa), sem se referir especificamente ao general, limitou-se a dizer que a posição do governo é pela criação da Comissão da Verdade, nos termos do projeto de lei enviado pelo Executivo ao Congresso em maio passado.
A nova ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, afirmou, via assessoria, que seu posicionamento sobre o assunto é público e foi exposto em seu discurso de posse, anteontem.
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O episódio demonstra uma diferença qualitativa entre o estilo político do ex-presidente Lula - excessivamente conciliador - e a presidenta Dilma, especialmente no tema da memória histórica da ditadura civil-militar de 1964-85.
Um dos grandes passivos do governo Lula foi essa renitência em não revolver o nosso passado ditatorial e repressivo, ao contrário dos governos democráticos do Uruguai, Argentina e Chile. A situação é agravada pela escolha, por Lula, de um ministro protofascista e americanófilo como Nelson Jobim na pasta da Defesa. A manutenção de Jobim (ou JohnBin) é um dos mistérios do novo governo Dilma Rousseff. De qualquer forma, o gesto pronto e decidido da presidenta na noite de ontem é um indicativo de indisposição para com os subordinados de Jobim (ou JohnBin).
Só por isso, já valeu o meu voto em 3 de outubro último.
Extraído do Diário Gauche
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