Íntegra das notas taquigráficas da sessão de ontem (25/3), na CMPA, onde a vereadora Neuza Canabarro cobrou a palavra e o caráter do Prefeito José Fogaça, sendo logo em seguida agredida e desrespeitada pelo Líder do Governo Valter Nagelstein, a chamando de amargurada, ingrata e leviana. E ainda sobrou pro Collares, que teria se vendido por um "saco de dinheiro"...
A SRA. NEUZA CANABARRO: Exmo. Sr. Presidente, Ver. Nelcir Tessaro; Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores, funcionários desta Casa, eu diria que estou tendo a oportunidade, hoje - no dia em que o meu Partido, o PDT, sela uma aliança, um compromisso com o PMDB para apoio ao Governo do Estado -, de colocar a nossa posição - a minha, a do Collares e de muitos outros.
Em primeiro lugar, quando se escolhe um candidato, se escolhe pelo programa partidário, pelas ideias. Vejam bem, num Partido, temos as nossas diferenças, temos as nossas dificuldades. Mas nós temos o seguinte: nós temos sofrido muito dentro do Partido; não por esses que passam, mas pelas ideias. Então, o primeiro ponto, Ver. Toni Proença, que nos leva a ter dúvidas neste candidato. O candidato Fogaça, que eu admiro como um grande compositor; sua maior obra está sendo, neste momento, homenageada pelo Zaffari - “Porto Alegre é Demais”; sem dúvida alguma, é unanimidade. Agora, uma coisa que eu gosto de ver é o que se chama de caráter. Quando o Prefeito Fogaça - o compositor, o poeta, do velho PMDB - sai do PMDB, é porque este não mais lhe servia, e deveria ter fortes razões para isso. O que ele faz? Ele vai para o PPS! Surpreendentemente, porque nós somos românticos, porque a música nos empolga, ele se elege Prefeito de Porto Alegre - pela sua música, pelo bom-moço, pelo “Joãozinho-do- passo-certo”, elege-se Prefeito de Porto Alegre! E quando lhe era perguntado se ele iria sair do PPS, todos aqui sabem o que ele dizia na imprensa: “Não, eu não vou sair do PPS”. Um Vereador aqui me disse: “Ele disse para mim, ele não sai do PPS”. Voltou ao PMDB! Mas ele voltou para aquele que ele não queria mais?! Houve o quê? Uma reengenharia no PMDB? O que ocorreu? Ele voltou ao PMDB! Aí, eu já fico com as minhas dúvidas.
Outra: um ano e oito meses atrás, na AMRIGS - eu estava presente, o Collares estava presente -, num debate promovido pela RBS, perguntaram: “O senhor vai renunciar para o Governo do Estado?”. “Não, eu não vou.” Vejam bem! O Prefeito Tarso renunciou, e o povo gaúcho cobra: veio pedir o voto para quatro anos, fique até o fim! Isso tem que ser “cavalo-de-batalha”. Agora é a vez do Tarso, eu acredito. Por quê? Porque ele já penou pelo erro que cometeu. Então, aí está o segundo ponto: se disse que não ia renunciar e vai renunciar... Ele tinha compromisso com o povo; tem que pelo menos lembrar e dizer: “Estou revisando a minha ideia”. Todos podem revisar.
Outro aspecto: aquela colocação de dizerem para nós, pedetistas: “Vai nos dar a Prefeitura”. Vai dar nada! O Fortunati é o Vice, se ele faz uma opção de ser o candidato ao Governo, a Prefeitura é nossa; isso não se negocia, não é favor. Agora, no meu entendimento, isso é coação, isso é chantagem! Saturnino Braga prometeu ao Brizola que daria como Suplente, o Lupi; ele daria quatro anos; assinou em cartório o compromisso; quatro anos depois, não quis dar. O Brizola foi à Justiça, e sabem o que a Justiça disse? “Qualquer pessoa, no momento de uma eleição, cede a uma coação, a uma chantagem, portanto, ele não tem por que renunciar.” Então, isso aí é outra coisa de caráter que eu não gosto.
Outra: não houve reunião do Diretório: as cúpulas se reuniram e acertaram. Agora, tem muita gente descontente, a pesquisa da Zero Hora disse: 20 querem Fogaça, 21 querem Tarso, e 17 não querem se posicionar, por quê? É porque vão com o Partido? Por que não querem se posicionar? Saiam às ruas para verem.
E, após a eleição, nós vamos ver. Eu acredito que esse candidato não chegue ao segundo turno! (Palmas.)
Notas taquigráficas do pronunciamento do Valter (cortados os apertes)
O SR. VALTER NAGELSTEIN: Presidente, Ver. Nelcir Tessaro; meu querido amigo, a quem admiro muito, Vice-Presidente desta Casa, Ver. Mario Manfro, a quem penhoradamente agradeço a cessão do tempo.
Sei que o tempo de Grande Expediente é algo muito nobre para todos nós Vereadores, é um momento de que dispomos, de 15 minutos, é um espaço em que podemos falar a respeito de nossos Projetos, das nossas posições, dos nossos trabalhos. É extremamente generosa a oferta que faz o Ver. Mario Manfro cedendo seu tempo, pelo que, Ver. Mauro, meu apreço, meu agradecimento e meu abraço! De fato é comovente a indignação da oposição. Eu espero que a população de Porto Alegre esteja testemunhando, porque, graças a Deus, graças também aos milagres da tecnologia, nós dispomos hoje de uma TVCâmara, que leva, ao vivo, para quem quiser ver e para todas as pessoas, espetáculos protagonizados, Ver. Ervino, dessa pequena dimensão. O que quiseram fazer agora, Ver. Haroldo, nessa manobra baixa, rasteira, foi cassar o nosso sagrado direito de fala. Depois de uma tarde toda, de forma vil, de forma rasteira, terem atacado não só o Governo, mas a honra e a dignidade do Prefeito José Fogaça. E isso é inatacável. E é por isso que este Vereador, na condição de Líder do Governo, mas ao lado dele, tenho certeza, todos os 26 vereadores que compõem o nosso Legislativo levantam-se - Ver. DJ Cassiá, Ver. Mario Manfro, Ver. Dr. Raul, Ver. Dib, Ver. Luciano Marcantônio, Ver. Ervino Besson - porque todos nós, de forma indignada, mas de forma cidadã, queremos levantar o nosso brado da mais profunda repudia. É inaceitável, Ver. Mauro Pinheiro, V. Exa pode se irritar comigo, pode querer ter arroubos de vir na minha direção, não há problemas, mas lamento mais do que tudo, porque sei que V. Exa é um jovem Vereador, assim como eu, bem intencionado, que tenha caído nessa armadilha de tentar ceder às tentações do arroubo ditatorial e tentar cassar a palavra dos seus colegas. Espero que V. Exa, lá no fundo da consciência, e sei que vai fazer, num ato de contrição, se arrependa.
Mais abismado fiquei, Srs. Vereadores, com a fala, Ver. Ervino Besson, da 6ª Suplente do Partido Democrático Trabalhista, que tenho certeza, certeza absoluta, arraigada lá no mais recôndito da minha alma, que não é acompanhada na sua manifestação por nenhum dos Vereadores do PDT desta Casa. Posso compreender as razões da Vereadora, muitas delas inconfessáveis, não faria e não cometeria o mesmo deslize de vir a esta tribuna para atacar, nem a sua dignidade, nem a sua honra, nem do ex-Governador Collares, por quem eu tenho o maior respeito. Mas não posso admitir, e não podemos admitir, em nenhum momento, que um Vereador de um Partido que compõe a nossa base venha a esta tribuna, e, de forma leviana, suscite dúvidas a respeito do caráter do Prefeito José Fogaça, que, com relação a ela, foi sempre tão generoso; com relação a ela, cedeu-lhe inclusive um diretor da Carris, por sua indicação. Não sei qual o desdém, não sei qual a amargura, não sei qual a tristeza, espero que não seja a professora Neuza, realmente, uma pessoa amargurada. A professora Neuza que conheço é outra, uma mulher generosa, que queria criar o Calendário Rotativo no Rio Grande do Sul, o que era, também, uma ideia generosa de fazer com que as crianças que não tinham acesso à escola, pudessem ter, e, naquele momento, sofreu uma oposição cruel.
O Governador Collares, primeiro negro que chega ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul, mercê das suas qualidades, do seu trabalho. Condenado pelas circunstâncias da vida, não chegaria, jamais, talvez, a este posto. Mas, pelo seu carisma, pelo seu trabalho, pela sua gana, pela sua dedicação, pelo seu esforço, acima de qualquer outra coisa, formou-se advogado, Vereador desta Cidade, como nós, Deputado, Governador do Estado, Prefeito desta Capital - grande Prefeito, justiça seja feita -, e bota, parece-me, com o devido respeito, na lata do lixo da história toda esta trajetória.
Eu não quero acreditar que tenha feito isso, como dizem alguns, por maldade - eu jamais faria isto - porque foi contemplado com um cargo lá em Itaipu. Não é da natureza do Governador Collares, não é um homem, não é o Governador Collares que eu conheci.
Eu me lembro – já lhe concedo o aparte, de Augusto dos Anjos, que dizia (Lê.): “Vês! Ninguém assistiu ao formidável/Enterro de tua última quimera./Somente a Ingratidão - esta pantera - /Foi tua companheira inseparável!/Acostuma-te à lama que te espera!/O Homem, que, nesta terra miserável,/Mora, entre feras, sente inevitável/Necessidade de também ser fera./Toma um fósforo. Acende teu cigarro!/O beijo, amigo, é a véspera do escarro,/A mão que afaga é a mesma que apedreja./Se a alguém causa inda pena a tua chaga,/Apedreja essa mão vil que te afaga,/Escarra nessa boca que te beija!”
Quem diria, Ver. Besson, que aquele Governador que foi humilhado, espezinhado, trucidado, em uma CPI artificial, criada por uma oposição doentia, como nós aqui também sofremos, hoje, esquecendo dessas coisas todas - queira Deus que não seja trocando por um saco de dinheiro -, se dobra a esta posição subserviente, e ataca o Governo que, há pouco, servia-lhe e continua servindo. Espero que não seja esta a posição, porque é muita ingratidão! É muita ingratidão!
(apartes)
O SR. VALTER NAGELSTEIN: Muito obrigado, Ver. Mario Manfro. Agradeço a todos os Vereadores, e concluo, dizendo, Sr. Presidente, nesses 30 segundos que me restam, do meu respeito pelo PDT. Eu venho de um berço trabalhista, fui forjado exatamente nessa escola, na escola de Getúlio Vargas, de Pasqualini, de Jango, de todos esses homens que são, na verdade, as vertentes do velho PDT, do velho PTB, do PTB que aqui está, do meu PMDB, diferentemente do PT. Por isso que sempre conseguimos conviver de forma harmônica, por isso que nos respeitamos nos nossos Governos; por isso que, no Governo do PT, eles tentaram... (Som cortado automaticamente por limitação de tempo.)
Foto: Lívia Stumpf/CMPA
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