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terça-feira, 12 de abril de 2011

O desmonte da Carris: déficit, denúncias e demissões


Por Paulo Muzell
A companhia Carris Porto-Alegrense anunciou neste início de 2011 o resultado do balanço do ano passado: um prejuízo de 1,8 milhões de reais. Em conseqüência, a direção suspendeu o pagamento de vantagens funcionais históricas, provocando a indignação dos seus 1.700 trabalhadores. As dificuldades não são novidade pois no final de 2009 a empresa já teve que recorrer a empréstimos bancários para pagar o 13º salário. A explicação da direção é que o insuficiente preço da passagem em vigor em 2010, de 2,45 reais, causou o déficit. Justificativa absolutamente inconsistente já que do início do Plano Real até hoje a tarifa praticamente duplicou: foi reajustada num nível 90% acima da inflação medida pelo IPCA.
Os indícios de má gestão e denúncias, cada vez mais frequentes, há vários anos foram tornados públicas pelas bancadas de oposição na Câmara de Vereadores. Segundo lideranças sindicais da empresa teriam sido a causa da saída do ex-presidente, Antonio Lorenzi (PMDB) em abril de 2010, substituído por João Pancinha, vereador do PMDB. As denúncias envolvem obras superfaturadas, realizadas sem licitação, compra de veículos em processo licitatório viciado, com uma única proposta – a vencedora – de uma empresa cujo proprietário, segundo a denúncia, teria relações com o ex-presidente (conforme matéria publicada no Correio do Povo). Há, também, a denúncia do desvio de um maciço volume de vales-alimentação da empresa no último episódio eleitoral. A vereadora Maria Celeste (PT) entregou um dossiê, anexando um áudio de um diálogo das lideranças rodoviárias com o ex-presidente Lorenzi ao promotor de Justiça de Defesa do Patrimônio Público, Cesar Faccioli, que abriu inquérito para apurar os fatos. Na ocasião Maria Celeste solicitou ao prefeito Fortunati a abertura de sindicância.
Em março passado, novas denúncias chegaram à Câmara Municipal, encaminhadas à Comissão de Defesa do Consumidor e dos Direitos Humanos (CEDECONDH). Cinco funcionárias de carreira, concursadas, uma delas com 23 anos de serviço, foram demitidas sob a alegação de “necessidade de redução de custos e racionalização dos serviços”. A vereadora Maria Celeste, presidenta da Comissão, observou que, quando há necessidade de reduzir gastos de pessoal, de acordo com o bom senso e também pelo que dispõe a Lei de Responsabilidade Fiscal, deve-se começar pela diminuição do número de cargos de confiança, os CCs. E completou: “os números da Prefeitura informam o contrário: justamente no período de maiores dificuldades, entre 2008 e 2010 a empresa aumentou o número de CCs de 24 para os atuais 34, o que deita por terra a justificativa dada pela direção da empresa”. As funcionárias denunciaram prática de assédio moral: após a demissão teriam sido proibidas de transitar livremente na empresa, sendo escoltadas por pessoas da confiança da diretoria. Maria Celeste solicitará ao prefeito que reavalie as demissões realizadas.
É lamentável que uma empresa da tradição da Carris – em junho próximo completará 139 anos -, reconhecida pela excelência dos seus serviços, pioneira no atendimento aos portadores de deficiência (PPDs) e na criação das linhas transversais, venha sofrendo nos últimos anos os efeitos de gestões incompetentes, uma marca registrada desse governo Fo-Fo (Fogaça-Fortunati). Há apenas uma década, cabe lembrar, a Carris era empresa modelo, reconhecida pela Associação Nacional do Transportes Públicos (ANTP), que lhe concedeu em 1999 e reafirmou em 2001 o título de melhor empresa de transporte público do país.

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